sábado, 29 de maio de 2010

O Amor

Após ler o bom texto de Contardo Calligaris (Indicado por meu amigo Vínicius), peguei-me pensando sobre o amor. Basicamente, o colunista da Folha de São Paulo percebe que as representações do amor feitas pelo cinema e pela literatura geralmente glorificam os momentos de entusiasmos desse sentimento, os instantes de ruptura em que os amantes se lançam numa aventura apaixonante; e dificilmente, nossas artes tratam do seguinte, do que acontece depois que a paixão já não acompanha mais o casal. Ele reconhece, por exemplo, que uma boa saída para o escritor é matar os amantes como se fez em Romeu e Julieta, Os Sofrimentos do Jovem Werther e Tristão e Isolda. Por fim, ele desenvolve uma série de idéias acerca do amor que fica, do trabalho que demanda uma relação amorosa, visto que ele compreende o amor como uma construção (Visão da qual partilho).

Bom, as reflexões são refinadíssimas e valem a pena serem lidas com detalhe porque estimulam nosso pensamento sobre amar, coisa que devia estar mais em nossas cabeças, muito mais do que dinheiro, família e carreira; embora não se possa amar sem isso.

Para mim, o psicanalista só desliza ao citar os exemplos, pois, com exceção do livro de Goethe, as outras duas histórias se referem à tragédias, desta maneira, o gênero exige uma desgraça no meio do caminho,e falando de amor, a impossibilidade dele se realizar é a maior judiação possível. Mas, por outro lado, Galligaris dá uma definição muito bonita sobre o amor, inspirado numa entrevista do filósofo Badiou, escreve assim: "É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela." Então, entende-se que a construção do amor requer tempo.

Agora, em nosso tempo, eu acho que o amor seja um sentimento humano fadado ao fracasso; penso que todo grande amor é essencialmente triste; e acredito que só aceitando essa condição fugaz é que se pode amar, talvez o amor seja exatamente o esforço que fazemos para negá-lo, para resistir a seu eterno fim. A esperança de continuar amando rege o amor, que pode durar um mês, dois, vários anos, uma vida inteira ou apenas um beijo, num olhar, um adeus. O ser humano é capaz de construir castelos num piscar de olhos se for por amor.

Não tenho muito mais o que dizer, acho que se alguém gostar dessa visão, encontrará exemplos melhores na poesia de Vinícius de Moraes, Bandeira e de Rubem Braga...rs.