segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mito da Felicidade

Leio muito a palavra “direito” na internet, direito de ser diferente, de ser igual, de ser triste, e principalmente, de ser feliz. A felicidade parece daqueles o direito inalienável (inalheável) do ser humano nos nossos tempos – já que grande parte dessa ideologia vem dos Estados Unidos, dá-nos o direito de fazer uma pequena comparação com um fato histórico conhecido por lá, só para o brio do estilo: nem mesmo a febre do ouro de 1849, na qual milhares de trabalhadores se deslocaram para o “velho oeste” norte americano, desenha uma procura tão voraz quanto a nossa febre da felicidade, pelo menos no mundo da propaganda, produção em massa e marketing.Por outro lado, a venda de Prozac aumenta a cada dia...
A felicidade é a ausência de problemas, é um comercial de margarina. O cachorro, os filhos – um casal - felizes e saudáveis, a mulher bonita e sensual e o pai, chegando ou saindo de seu carro zero. Olhamos para a vida e vemos que os animais morrem rápido; os pais se suportam num amor conformado e econômico, com traições mensais; o filho usa drogas e engravidou uma menina da vizinhança; a menina sofre de síndrome do pânico. Não somos felizes, ninguém é! Não importa quantas vezes a televisão diga que sim.
A felicidade se trata do mito contemporâneo, entretanto, diferencia-se dos antigos: os religiosos e os científicos tentam explicar o mundo para uma convivência mais tranqüila(se funciona ou não se refere a outra discussão), pois conhecem os suplícios desse mundo; apóiam-se na fé das pessoas. A felicidade segue um caminho diferente, ao invés de esclarecer, turva a imagem do mundo, dividindo o homem em várias realidades individuais; estrutura-se através da ignorância e da alienação.

3 comentários:

Vinícius disse...

Oi, Rafa!

Gosto de vê-lo escrevendo mais e gostei especificamente deste texto, bem articulado.

Concordo com você com o fato de "a felicidade" pregada pela mídia ser maléfica, causadora de ignorância e alienação.

No entanto, não sei se isso faz dela "um mito". EU acredito sim que a felicidade exista. Só não acho que ela seja esse "comercial de margarina" pregado pela TV.

Além disso, a "felicidade" existe desde os tempos remotos, não? Não acho que ela seja uma invenção moderna. Acho que ela é um dos componentes do ser humano, mesmo que externa.

Rafa disse...

Olá Vinícius,

Obrigado por comentar!
Também acho que a felicidade exista, mas não completamente, acredito que a vida seja, de fato, uma dialética entre a tristeza e a felicidade. De certa forma, também acho que o sofrimento seja base do amadurecimento humano, até me atrevo a dizer que seja o caminho para compreender os momentos de felicidade, que, como você disse, é um componente do homem.

Mas a idéia de "felicidade" hoje, parece querer eliminar os momentos de sofrimento. Inclusive, segundo Maria Rita Kehl, alguns psicanalistas defendem que o Prozac deve ser tomado sempre que o sujeito se sentir triste e não mais só em quadros depressivos... E está idéia modela a vida de várias pessoas, que justificam suas ações, egoístas e individuais, com o "direito a ser Feliz".
Mas talvez você esteja certo, não sei se poderia se tratar de um mito. Preciso pensar sobre isso...

Carol Colaneri disse...

Oi Rafa!
Gostei que vocês tb tem blog, vou adicionar o link no meu =)
Eu li o seu texto e acho que tenho que refletir um pouco mais sobre ele pra dar uma opinião acertada, mas o que eu posso dizer por experiência própria é que a vida é feita de momentos de felicidade e tristeza.
O que eu ainda nao aprendi, porém, é que na vida pra tudo a gente tem que ter paciência de esperar.... E essa paciência ainda não veio pra mim, infelizmente!
Continue escrevendo!
Beijos
Morenosa